MEMÓRIAS DE JULIO VANNI -
PRIMEIRO RASCUNHO
Não sei bem quando entrei na política
de Pequeri. Jovem, já sentia correr em minhas veias o
germe politicum, tipicamente
mineiro, decorrente do vivo interesse
que eu tinha pela vida, história do lugar e pela política nacional. A educação
moral e cívica e as atividades pré-militares no Colégio Leopoldinense no tempo
da Segunda Guerra Mundial foram bem acentuadas, ao ponto de eu pensar em me alistar, ou ser
convocado para a Força Expedicionária Brasileira. O fim da guerra em 8 de maio de 1945, não modificou a minha convicção de
patriota ardoroso e convicto de que eu teria de ser um cidadão ético, decente e
prestativo à comunidade em que vivesse. O Colégio Leopoldinense fora, na época, uma
verdadeira fábrica de cidadãos conscientes e bem preparados para servir a pátria e vencer na vida.
Já naquele tempo, eu acompanhava com
vivo interesse a política de Minas
Gerais e tive no deputado federal, Carlos Luz, que fora presidente da Caixa Econômica Federal no tempo de Getulio
Vargas, o modelo a seguir. Político carismático, sério e com
postura de estadista, tinha sua base
eleitoral em Leopoldina e sonhava ocupar
um dia o Palácio da Liberdade. A
convivência com ele e os seus conselhos no
sentido de cuidar, inicialmente, da terra natal, me levaram a pensar em Pequeri, ainda um distrito de
Bicas, dominado pelo astuto dr Oliveira
e Souza, um autêntico “coronel” municipal.
Entre a minha vida acadêmica no Rio
de Janeiro e o interesse por Pequeri, eu já me preocupava como dividir o meu tempo
na capital e, ao mesmo tempo, ajudar
a santa terrinha natal. Influenciado
pela prática do jornalismo estudantil praticado em Leopoldina, criei um Boletim
Informativo, mensal, com cem cópias mimeografadas,que eram distribuídas nos fins
de semana, quando chegava a Pequeri, principalmente nos dias em que havia jogo do campeonato da Liga de Bicas e o S.C. Pequeriense jogava em casa.
Passava férias em Pequeri, quando numa
tarde de muito movimento na praça da estação, vi descerem do expresso 22 que ia para o Rio de Janeiro, o prefeito de Bicas, dr.
Oliveira e Souza e o deputado estadual Último de Carvalho, que tomaram o rumo
da casa de José Flora., um inconteste líder
social e político do lugar. Estavam comigo na esquina da rua Marcelino
Tostes, bem em frente onde os carros de passageiros paravam, o Braz Germano, o
Lúcio de Castro , o Juquinha de Castro e o negociante Antônio Guarise que ao
ver os dois políticos, alertou-nos de que haveria notícia política relevante
naquele dia. Pequeri na época, era 80% dominada
pela UDN ( União Democrática Nacional) que se opunha à
política do Dr. Oliveira e Souza que era do PSD ( Partido Social
Democrático) e que elegera Juscelino Kubscheck governador do estado. De imediato sugeri ao Braz Germano que ele fosse à casa do José Flora, casado com
sua irmã Iracema, e procurasse ouvir, discretamente, o que poderia ser a grande
novidade do dia. E tal aconteceu. Era a
emancipação de Pequeri, proposta pelos visitantes ao José Flora, em nome do governador Juscelino,
condicionando a criação de um diretório
bem forte do PSD no distrito. Era interesse de Juscelino Kubscheck pacificar
o estado a fim de disputar a presidência da República e, ao mesmo tempo, o novo diretório daria ao Oliveira e Souza, o domínio político na localidade que
tanto o incomodava. Compreendi logo que
o diretório da UDN poderia acabar em
Pequeri porque o povo via a emancipação como
uma rara oportunidade de progresso. Mas, mesmo
enfraquecido, o diretório da UDN sobreviveu, já que os vereadores por Pequeri na Câmara Municipal de Bicas, José Flora e
Laerte Campos, tinham sido eleitos pela UDN que contava com outros dois vereadores
eleitos pela sede do município. Com
quatro vereadores da UDN e mais o voto do vereador do Partido Republicano que apoiava Oliveira e
Souza na Prefeitura, porém presidido por
Antero Dutra Marques, um filho de Pequeri que logo abraçou a causa da terra
natal, estava garantida a emancipação. A
campanha emancipacionista foi quase um delírio em Pequeri contagiando , inclusive, os filhos do lugar
que viviam fora. Sem poder estar com freqüência na saudosa vila, eu acompanhava
de perto todos os acontecimentos, telefonando, diariamente, para o amigo da
minha família, sr Luiz Emílio Ferreira (Seu
Lulú), gerente do Laticínio da firma Marques Sampaio Ltda, que me
informava de todos os acontecimentos. Seu telefone era um dos três que havia em
Pequeri. E a emancipação aconteceu no dia 13 de dezembro de 1953. Na instalação
do município estive presente e fiz meu discurso emocionado, já pensando ser um
dia, prefeito do lugar.
Recebi por e-mail de Julio C. Vanni
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