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segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Texto de Júlio Vanni : Ser Telúrico

SER TELÚRICO.
    Júlio Cézar Vanni
Sou  telúrico. Tenho orgulho de ter nascido em Pequeri, ser mineiro e bom brasileiro. Porém, pelo que evoluí e realizei,  penso hoje,  bem  que eu merecia   viver num  país já  feito, onde tudo funciona  a contento,em cidades pequenas ou médias planejadas  que não se enchem  de favelas, com rede de esgoto sanitário, água de boa  qualidade, sem cercas entre propriedades, sem o barulho excessivo dos aparelhos de som nas ruas e em festas sociais;sem balas perdidas e assaltos freqüentes;  todo mundo se respeitando, ninguém se intrometendo na vida dos outros, salvo para atender às emergências; assistência médica perfeita e hospitais bem equipados;  campo produzindo alimentos sem agrotóxicos; todo mundo se alimentando bem e bebendo  vinho, refrigerantes e leite  sem conservantes  químicos;  natureza respeitada, rios e ribeirões limpos e piscosos; estradas sem lama ou poeira; bibliotecas, museus, teatros e instituições culturais funcionando  de verdade; escolas bem equipadas  e ensino  de qualidade; escritores tendo facilidade de publicar suas obras;cidades bem administradas com jardins bem cuidados e sem grades de proteção, isentas de poluição e sem animais nas ruas e estradas;  políticos descentes e governos sem escândalos freqüentes, etc. Parece uma utopia pensar que existe esse lugar. Mas existe.
Entre dez lugares do mundo selecionados por um grupo  de 10 amigos com experiência internacional, dois escolheram a Escandinávia, dois  a  Suiça,um Miami, um  a França, um preferia ficar por aqui mesmo e três a Toscana. Eu fiquei no grupo dos toscanos justificando a minha origem latina,, a potencialidade cultural da região e sua estrutura turística, onde tudo parece funcionar  bem. Mas não ficaria em Florença  que tem o maior índice mundial de obras de arte por metro quadrado  e a gente chega até a tropeçar nelas.Poderia escolher Siena ou Lucca que formam com Florença o tripé cultural da Toscana.Cheguei a pensar no Vale D´Elsa, em San Gimigliano,onde são produzidos  alguns do melhores vinhos do mundo e Volterra , atraído pelas escavações etruscas, talvez impulsionado pelo  gene saliente ao ter contato com  seu habitat  primitivo. Mas  minha preferência seria  uma pequena cidade e cheguei  a pensar em  Vinci,  terra do famoso Leonardo, em  Pescaglia onde nasceu Puccini e em Barga, onde viveu  o famoso poeta  Giovanni Pascoli. Afinal, optei pela pequena localidade de Ponte all´Ania,  um distrito de  Barga, no vale do Serchio,  pertinho  de  Cardoso, Piano  di Coreglia  e  Fornaci  di Barga.  Dali  eu poderia visitar muitos outros lugares,inclusive  o belo e repousante  cemitério de Lóppia, onde estão sepultados os meus antepassados.
 Mas vou ficando por aqui mesmo. Creio  que sentiria falta do calor tropical,do chopp bem gelado, das mulheres faceiras, das praias, dos bumbuns de fora, das brigas de torcidas,do ritmo candente do samba, do noticiário dos jornais que registram as maracutáias públicas, os  freqüentes escândalos  políticos etc.
   (Recebido por e-mail )

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Um antigo manuscrito



Este antigo manuscrito foi escrito por D. Lourdes Marques , que foi professora e  Diretora do Grupo Escolar Antero Dutra, e ilustrado por Gioconda Vanni.




quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Memórias de Júlio Vanni

MEMÓRIAS  DE JULIO VANNI  -  PRIMEIRO RASCUNHO
Não sei bem quando entrei na política de Pequeri. Jovem, já sentia correr em  minhas veias o  germe politicum,  tipicamente  mineiro, decorrente do vivo interesse que eu tinha pela vida, história do lugar e pela política nacional. A educação moral e cívica e as atividades pré-militares no Colégio Leopoldinense no tempo da Segunda Guerra Mundial foram bem acentuadas, ao  ponto de eu pensar em me alistar, ou ser convocado para a Força Expedicionária Brasileira.  O fim da guerra em 8 de maio de  1945, não modificou a minha convicção de patriota ardoroso e convicto de que eu teria de ser um cidadão ético, decente e  prestativo à comunidade em que vivesse. O  Colégio Leopoldinense fora, na época, uma verdadeira fábrica de cidadãos conscientes e bem preparados para  servir a pátria e vencer na vida.
Já naquele tempo, eu acompanhava com vivo interesse a  política de Minas Gerais e tive no deputado federal, Carlos Luz, que fora presidente da  Caixa Econômica Federal no tempo de Getulio Vargas,  o modelo  a seguir. Político carismático, sério e com postura de estadista, tinha sua  base eleitoral em Leopoldina e  sonhava ocupar um dia o Palácio  da Liberdade. A convivência com ele e os seus conselhos no  sentido de cuidar, inicialmente, da terra natal, me levaram a  pensar em Pequeri, ainda um distrito de Bicas, dominado pelo astuto dr  Oliveira e Souza, um autêntico  “coronel”  municipal.
Entre a minha vida acadêmica no Rio de Janeiro e o interesse por Pequeri, eu já me preocupava como dividir  o meu tempo  na capital e, ao mesmo tempo, ajudar  a santa terrinha natal.  Influenciado pela prática do jornalismo estudantil praticado em Leopoldina, criei um Boletim Informativo, mensal, com cem  cópias  mimeografadas,que eram distribuídas nos fins de semana, quando chegava a Pequeri, principalmente nos dias em que  havia jogo do campeonato da Liga de  Bicas e o S.C. Pequeriense jogava em casa.
Passava férias em Pequeri, quando numa tarde de muito movimento na praça da estação, vi descerem do  expresso 22 que ia para  o Rio de Janeiro, o prefeito de Bicas, dr. Oliveira e Souza e o deputado estadual Último de Carvalho, que tomaram o rumo da casa de José Flora., um inconteste líder  social e político do lugar. Estavam comigo na esquina da rua Marcelino Tostes, bem em frente onde os carros de passageiros paravam, o Braz Germano, o Lúcio  de Castro , o Juquinha de  Castro e o negociante Antônio Guarise que ao ver os dois políticos, alertou-nos de que haveria notícia política relevante naquele dia.  Pequeri na época, era 80% dominada pela UDN ( União Democrática Nacional) que se opunha   à  política do Dr. Oliveira e Souza que era do PSD ( Partido Social Democrático) e que elegera Juscelino Kubscheck governador do  estado. De imediato sugeri ao Braz Germano  que ele fosse à casa do José Flora, casado com sua irmã Iracema, e procurasse ouvir, discretamente, o que poderia ser a grande novidade do dia.  E tal aconteceu. Era a emancipação de Pequeri, proposta pelos visitantes  ao José Flora, em nome do governador Juscelino, condicionando a criação  de um diretório bem forte do PSD no distrito. Era interesse de Juscelino Kubscheck pacificar o  estado a fim de disputar a  presidência da  República  e, ao mesmo tempo,  o novo diretório  daria ao Oliveira e  Souza, o domínio político na localidade que tanto o incomodava.  Compreendi logo que o diretório da UDN  poderia acabar em Pequeri porque o povo via  a emancipação como uma rara oportunidade de progresso. Mas, mesmo  enfraquecido, o diretório da UDN sobreviveu, já que os vereadores por  Pequeri  na Câmara Municipal de Bicas, José Flora e Laerte Campos, tinham sido eleitos pela UDN que contava com outros dois vereadores eleitos pela sede do município.  Com quatro vereadores da UDN e mais o voto do vereador  do Partido Republicano que apoiava Oliveira e Souza na Prefeitura, porém presidido  por Antero Dutra Marques, um filho de Pequeri que logo abraçou a causa da terra natal,  estava garantida a emancipação. A campanha  emancipacionista  foi quase um delírio em Pequeri  contagiando , inclusive, os filhos do lugar que viviam fora. Sem poder estar com freqüência na saudosa vila, eu acompanhava de perto todos os acontecimentos, telefonando, diariamente, para o amigo da minha família, sr Luiz Emílio Ferreira (Seu  Lulú), gerente do Laticínio da firma Marques Sampaio Ltda, que me informava de todos os acontecimentos. Seu telefone era um dos três que havia em Pequeri. E a emancipação aconteceu no dia 13 de dezembro de 1953. Na instalação do município estive presente e fiz meu discurso emocionado, já pensando ser um dia, prefeito do lugar. 
Recebi por e-mail de Julio C. Vanni

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

O voleibol em Pequeri em tempos antigos






Gioconda Vanni, Nemésia,Lia Micheli, Zara Magri devem ter boas lembranças do voleibol em Pequeri. Recordo-me que aos meus 10 anos de idade,  vi algumas moças jogando voleibol no campo do Sport. Vestidas de branco, com saia pregueadas , recordo-me de Virginia Granato, Maria Granato, Clóris Tostes, Nilza Côrtes, Aparecida de Castro e outras que eram as "bacanas" do lugar na época. Depois, me lembro da primeira quadra feita no pátio do Grupo Escolar, lado das meninas, com marcação de tijolo.Isso,no final da década de 1930. Dali me lembro jogando, formando um time feminino de valor, Cloris Tostes e uma irmã, Dalva Granato, Cléia Guedes, Nemésia, Léa Micheli, Gioconda ,Aparecida de Castro, Cléa Martins ( filha de Sinhá Tostes,) Marília Tostes.  Com o desmanche de um prédio antigo no local em que surgiu a praça Prefeito José Flora, ai foi feita uma segunda quadra de volibol, com destaque para Nemésia Flora, Zequinha  Flora,as filhas de Sinhá Tostes  (Cléia, Dorinha, Dinha) Iára Ferreira e outras que merecem ser lembradas. A predominância das moças no voleibol era absoluta, embora muitos moços participavam  de equipes mistas.
Texto de Julio Vanni, recebido por e-mail.



                      Aqui algumas jogadoras do time de vôlei antigo de Pequeri.
                      Foto gentilmente cedida por Nemésia Flora.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

PUBLICAÇÕES A PEDIDO. (Quando Pequeri pertencia a Sarandira)



REPRESENTAÇÃO DO COMMERCIO DE SARANDY. 1889



  Ilmos. Srs. Presidente e mais vereadores da câmara municipal do Juiz de Fora. – À presença de V.V.S.S. vêm os abaixo assinados, negociantes estabelecidos no distrito do Sarandy, deste município, reclamar contra o abuso cometido por muitos fazendeiros, que, sem pagarem impostos contra o que dispõe o código de posturas municipais, tem verdadeiros estabelecimentos comerciais em suas fazendas, a título de “armazém para fornecimento aos empregados”, mas onde comerciam em toda a sorte de artigos, lesando assim os interesses do comércio lícito, que, por estar sobrecarregado de impostos onerosos é intuitivo que não pode competir com quem dolosamente se furta ao pagamento deles. 

  Dos fiscais do distrito, de quem os abaixo assinados tem por mais de uma vez solicitado providências contra tão abusivo procedimento, nada esperamos signatários da presente representação, porque, ou estes agentes municipais interpretam mal o espírito da legislação vigente, ou esta é realmente deficiente para a repressão deste e outros semelhantes abusos.

  Seja, porém, como for, aos abaixo assinados – leigos em matéria de legislação – o que parece de justiça, é:

  -Que ninguém possa comerciar sem pagar os direitos relativos á profissão de comerciantes. O contrário disto é estabelecer exceções odiosas em favor de determinadas classes com reconhecido gravame dos interesses de outras.

  Todas as classes produtoras são outros tantos fatores da riqueza dos municípios, e conseguintemente do país. Pode cada uma delas produzir e usufruir a maior soma de conseqüentes frutos de sua maior ou menor atividade, mas isto dentro da órbita que lhes é traçada pelos poderes públicos, com o fim de evitar o choque de interesses particulares, do qual resulta mais tarde ou mais cedo o decrescimento da renda pública.

  No caso vertente se esta ilma. Câmara não der imediatas providências no sentido de por um paradeiro a este estado de cousas, tem de ver em breve diminuída a sua renda, pela supressão de muitos estabelecimentos comerciais do município, que, além de se verem a braços com uma crise assustadora, tem ainda de arcar com a concorrência de uma infinidade de comerciantes não tributados.  

  Mas, ainda isto não é tudo, ilmos.srs. Uma clausula de vendedores de gêneros do país anda por aí de estação em estação e de fazenda em fazenda, mascateando gêneros por amostra, sem pagamento de imposto de espécie alguma; isto sem falarmos nos mascates de fazendas e outros artigos que, quer deste município, quer de municípios estranhos, se servindo mesmo meio capcioso para se furtarem ao cumprimento da lei. E quando o comércio se queixa aos respectivos agentes municipais, respondem-lhes isto: ‘Individualize’.

  A individualização, em semelhantes casos, ilmos. srs., como a querem os agentes municipais, repugna no caráter dos abaixo assinados como ao de todo o homem que se presa.

  Exercendo uma profissão honesta, e quiçá honrosa, de que pagam avultadíssimos impostos, eles supõem o que devem encontrar na lei e seus executores o corretivo bastante eficaz contra a lesão de seus interesses, sem que lhes necessário representar o degradante papel de denunciantes.

  É por isso que os abaixo assinados generalizando os fatos, vem respeitosamente pedir a esta ilma. Câmara que lhes faça a dívida. 



Justiça.

E. R. M.

Julio Equi & Irmãos.

João Guilherme Bezerra Paes.

Francisco Martins da Silva.

José Carrara & Irmão.

Ernesto Breyer.

Arantes & Andrade.

José Teixeira Roza.

Manoel Tavares Corrêa.

Antonio Caput.

Manoel Anastácio Corrêa.

João José Antunes.

Antonio Guilherme Rangel.

Laudelino José de Freitas.

Maria Augusta.

Virgílio Dutra de Moraes.

João Moreira Casemiro.

João B. Lucas Linhares.

Adriano de Mesquita Menezes.

Luiza Martins.

Joaquim Ferreira Tavares.

Francisco Curcio.

Joaquim da Silva Fontes.

José Severiano.



Jornal “O Pharol” de Juiz de Fora. 05/03/ 1889 – N. 54 – Páginas 2 e 3.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Texto: Pequeri de meu tempo



Foi na Fazenda de Santa Luzia, a leste da Estrada de Ferro, num velho casarão construído, no tempo do cativeiro, onde eu nasci. Filho de pais do alem mar, sem conhecer as vitaminas, as penicilinas, cresci num ambiente sadio e feliz, desconhecendo o mundo fora dos limites do meu querido São Pedro do Pequeri. A natureza prodigiosa daquele tempo era o alento da boa gente das fazendas que nela tinha o seu sustento, o seu remédio e o seu divertimento.
Como todo garoto, aos sete anos fui para a escola no “arraial”, a fim de receber os primeiros ensinamentos de minha formação. Impulsivo no inicio, acostumei-me, logo, com os companheiros que comigo faziam boas e saudosas estripulias. Com o estudo eu não queria nada. Lembro-me do interesse que tive em aprender os nomes dos dias da semana, somente para marcar nas folhinhas as “quintas-feiras” e os “domingos” que eram os dias de folga, dias em que eu podia cavalgar o “Trento” meu cavalo pedrez que me levava ate a invernica para dar sal ao gado e a postar corridas com as novilhas desgarradas. Aos domingos, entr3tia-me com as arapucas e os alçapões na anciã de pegar algum canário, um sabia, uma juriti ou mesmo um tico-tico, enquanto que no velho açude gordas traíras, acaras e lambaris eram pescados em quantidade. Quando me fartava dos passarinhos e da pesca, ia ao mato buscar o mel das abelhas selvagens para um guloso regalo tão próprio das crianças de todos os tempos.
As plantações abundantes propiciavam  naquele tempo, farta colheita. Os carros de bois, com o seu chiado característico, anunciavam sempre a chegada ao terreiro vinham um após outro para derramar diante da casa grande, o café, o milho, o feijão, etc. numa euforia sem par. Era uma verdadeira festa a chegada dos primeiros carros com a primeira colheita. O ultimo carro era sempre enfeitado de ramos e flores silvestres. O pessoal delirava de contentamento. No primeiro sábado, após o inicio da colheita, era, então festejando o grande acontecimento. Os colonos italianos, herdeiros das tradições da sua terra natal, se ajoelhavam e lançavam uma prece a Deus, agradecendo o belo resultado dos seus esforços. Rezava-se o “terço” para depois da benção do Santo padroeiro das boas colheitas, ter inicio um esfuziante baile sob o som da sanfona. A meia noite dançava-se a quadrilha como ponto culminante dos festejos. Bebia-se a “temperada” que era uma deliciosa bebida preparada pelos italianos. Assim festejava no meu tempo, com incomensurável alegria a colheita farta que se repetiria nos anos seguintes.
No “Arraial” as festas do Mês de Maria eram esplendidas. Havia, não tenho duvida, mais alegria, mais gente, mais fartura e, por conseguinte, mais animação. O futebol era de uma animação nunca vista. Pequerience F. C. e S. C. Elite, dividiam as preferências locais.  Os homens torciam e brigavam, enquanto que as mocas na vigilância dos seus pais torciam caladas, com o pensamento no baile que certamente haveria a noite.
Como em todo lugar, o carnaval de S. Pedro do Pequeri marcou época.
Para o reinado de Momo, chegava sempre um carro especial da estrada de ferro com gente do Rio de Janeiro, pois, a fama das mocas de Pequeri era de que eram as mais bonitas da redondeza. Nos salões de baile, pisava-se em montes de confetes e serpentinas enquanto que no ar os guinchos dos lança- perfumes eram em profusão.
A política era assunto dos mais idosos. A rapaziada não se preocupava tanto com esse assunto. Seria, naquele tempo, deselegante um rapaz falar em política com a sua namorada. Levava logo um fora. E no comentário com as amigas, a donzela diria: “fulano é um bobo. Só fala em política, coisa que eu não entendo e nem sou eleitora”.
Como o tempo não espera por ninguém, senti chegada a mocidade, quando tive de m afastar daquele ambiente que tanto adorava. Fui para o colégio. As férias eram aguardadas sempre com viva ansiedade. A saudade o meu São Pedro do Pequeri era imensa. Como era bom  rever  tudo aquilo... Os dias de férias pareciam passar depressa. E antes mesmo que terminassem, eu começava a sentir o pungir impiedoso da saudade. Novo ano de estudo, novas férias.... E o tempo me fez homem.  Assim que terminei o curso, não encontrei trabalho compatível com os meus estudos no meu querido torrão. Parti para o Rio em busca de um futuro promissor. Enfrentei sozinho, mil e uma dificuldades, sem nunca desanimar e vencer finalmente. Ainda com os olhos voltados para frente, e com o pensamento no meu velho São Pedro do Pequeri, eu vejo passar 25 anos de ausência do torrão querido.
Quando visito Pequeri, não deixo nunca de olhar para o seus passado e compara-lo com o presente. Está tudo mudado. Sento-me, sempre sob uma velha e frondosa arvore, fecho os olhos para contemplar o deslumbramento de outrora. Como me sinto feliz!
Ao abri-los, sinto porem, uma magoa profunda. Não vejo ao redor de mim, os vastos cafezais, as verdes florestas despareceram. Tudo agora é pastos e montanhas desnudas. Levanto-me e me ponho a caminhar pela velha estrada onde eu cavalgara com os arroubos próprios da infância. Não encontro mais os camponeses nos campos. Suas casas não existem mais. Foram para outros lugares em busca de melhor situação. As juritis, os sabiás, os nhambus, as trocau, também se acabaram. No velho açude o anzol fica como que dando “banho à minhoca”pois os peixes não beliscam mais. A casa onde nasci também desapareceu. Nem mesmo as ruínas pude encontrar. Olho, finalmente, para o azul infinito do céu que e a única coisa que ainda resta. Ali a Mao do homem não pode alcançar para destruir.
 Volto ao “Arraial”que hoje goza dos foros de cidade. As suas ruas são as mesmas e o casario em quase nada foi alterado. Encontro-me com poucos conhecidos de outrora, pois, a maior parte da população é para mim, agora, desconhecida. Os antigos companheiros são homens como eu. Os moços do meu tempo ficaram velhos e os velhos na sua maioria, deixaram de existir. Tudo, tudo e tão diferente. Os costumes já não são os mesmos. As moças discutem  política com entusiasmo e coragem. O namoro é mais livre. As fábricas antigas desapareceram. No grupo escolar não encontrei mais as matronas amigas d’antes. Agora as professora são “brotinhos” na sua maioria ( aliás, é a única coisa que invejo dos atuais alunos).
Hoje meu querido São Pedro do Pequeri és cidade, porem, pouco progrediste. Do teu velho nome ficou apenas o Pequeri, mas guardo no coração as saudades daquele bom tempo. Tudo passa, tudo se modifica. Só não modifica o teu céu de azul puríssimo. E o meu desejo, meu velho Pequeri, e de que o mesmo sol que me viu nascer me veja morrer.
Fernando Vanni

Fonte: Jornal ‘O Pequeri’ – 17 de setembro de 1956.


quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Lembranças de minha infância em Pequeri


Hoje quero recordar um pouco da minha infância.
Lembro-me de quando fui pra escola, já sabendo escrever meu nome, e naquela época não existia  a pré-escola, meu pai me ensinou em casa alguma coisa . Na escola logo aprendíamos a ler, minha primeira professora foi Lia Michelli, ela conta que em maio já estávamos lendo. Ainda tenho guardados meu primeiro caderno e minha cartilha onde aprendi a ler. Meu pai às vezes no aniversário dava-me um livro de história de presente.Sempre fui muito participativa, adorava recitar nos teatros, e meu pai  atuava como ator.Meu pai era também músico e tocava nos bailes de carnaval, eu decorava as músicas e cantava bastante.Quando eu era criança ainda não tinha Clube, os bailes de Carnaval eram num salão que existia no chamado” Largo”, hoje  Rua Manoel Gervásio .Por ali também funcionava o primeiro cinema, meu pai trabalhou passando  os filmes . Gostava de brincar de boneca e também de farowest  com meu irmão no quintal, de jogar maré, de pique , queimada, de roda, e alguns joguinhos.As casas tinham quintais com frutas, e eu me deliciava chupando muita manga na época delas, e nas jabuticabeiras no quintal do vizinhos, e haviam também os pés de ameixa, as laranjas de abril e serra dágua, os abacates que ganhávamos.Eu morava numa casa bem antiga, que hoje já não existe, mas dela consegui uma foto.Perto da casa havia uma pracinha, um parquinho para crianças e quadra de vôlei. Sempre gostei de jogar vôlei, mas não consegui ganhar a bola de vôlei que pedi ao Papai Noel.Meu pai comprou uma bicicleta que era pra mim e meu irmão, aprendi a andar nela. Naquele tempo ainda não existia televisão, só o rádio, telefone só um na praça, mas o correio trazia sempre muitas cartas. Carros eram muito poucos, e o trem era o transporte mais comum por aqui, com vários horários, havia o Expresso, o Misto e o Noturno.  Ah, quem tinha uma geladeira (eram poucas pessoas) logo fazia picolé-(simples forminhas da geladeira)- para vender.O fogão era à lenha, as panelas muito encarvoadas dando um trabalhão para serem lavadas. Também não tínhamos banheiros tão confortáveis como agora. Minha mãe era costureira, fazia todas as minhas roupas, alguns vestidos eram lindos, o da primeira comunhão todo bordado por minha tia.Nas coroações à Nossa Senhora durante o mês de maio eu sempre cantava muito, nas festas de São Pedro Padroeiro foi feito até um hino especial pra eu cantar, tudo muito decorado e ensaiado pela professora Geni Michelli, com acompanhamento de violinos, que chique! Fotos naquele tempo eram raras, mas tenho algumas .Tive uma infância muito feliz aqui em Pequeri, sempre alegre,  estudiosa e obediente aos meus pais.


 

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Um texto sobre Minas Gerais

"Minas,
tantas há por aqui, subterrâneas ou à flor da pele,
que bem achado foi apelidá-las Gerais.
Minas Gerais, quase meio triste em seu muito silêncio,
veza de melancolia, macambuzeira, mofina,
quase alegre de ipês no seu agosto amarelo.
Tão contida chora o alegre, tão contida canta o triste,
dança como alforriada, o sapateado é sério,
pedindo sempre licença, tirando sempre o chapéu,
cheios de curva os casos, os entre parêntesis finórios
contam pecados barrocos e santidades extáticas
se rindo pra dentro, mais esperta do que sobrou
do resto do mundo.
Que boa fatalidade ser herdeiro de Minas,
ter por riqueza seus bois, poeira, cerrados,
oratórios, rezas, violas prazerosamente tristes,
seu luto aliviado de quaresmeiras,
tudo o que é lamentoso e bonito
e gasta tempo pra se fazer, doces, namoros, olhares,
promessa de festa no corpo e eternidade na alma,
montanhas, luares, amanheceres sobre picos
com muita e densa neblina, frios.
Estou inventando Minas?
Certamente, mas tudo é mesmo inventado.
E isto é Minas também."


                                                            Texto de Adélia Prado


PEQUERI é uma cidade do Estado de Minas Gerais.
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