História do Hospital de Pequeri
Corria o
ano de 1.967. A cidade sem calçamento,
sem telefone, sem água, luz deficiente, sem médico ou serviço compatível com as
suas necessidade, propiciava á população um quadro desolador. O posto de Saúde do Estado, precariamente
instalado nos fundos do mesmo pardieiro em que funcionava a Prefeitura
Municipal, era algo de asqueroso, suscetível de comprometer a credibilidade dos
serviços públicos e de agredir os mais elementares preceitos de higiene e de
assistência médica. Não aceitando aquela
promiscuidade e constatando que o prédio não comportava uma reforma para a
natureza dos serviços, tratou o prefeito de alugar uma casa na mesma rua e, com
pequena reforma, adapta-la ás necessidades do Posto de Saúde. Era uma
providência emergencial e oportuna que perduraria por mais algum tempo até que
algo mais importante pudesse ser feito.
Homem
afeito ao planejamento, aquela autoridade, entre os muitos projetos montados
para Pequeri, colocou como o Plano Municipal de Saúde, através do qual
pretendia atender ás necessidades médicas da população resolvendo, de vez, o
problema.
Contava
do Plano de Saúde a construção de uma Unidade Médica suficientemente equipada
para as emergências, com ambulatório, farmácia, gabinete dentário, sala de
partos, duas enfermarias com dois leitos cada uma, aposento para médico, sala
administrativa, copa e cozinha, e até uma ambulância para o transporte dos
doentes e acidentados que necessitassem de ser removidos para os hospitais de Bicas, Mar de Espanha, Juiz de Fora ou
Três Rios. Mercê ás suas
características, aquela Unidade foi denominada Mini Hospital sendo, pois o
embrião de um futuro nosocômio.
Com essa
idéia de Mini Hospital, o prefeito levou o projeto á apreciação do Dr. Harrisson
de Mendonça, titular do Posto de Saúde e que somente ás quintas-feiras
comparecia a Pequeri.Encontrou-o, após o expediente, conversando com o
Coletor Estadual, Agenor Garcia Ribeiro,
dinâmico “auxiliar” de serviços médicos nas horas vagas que, na adolescência e
até mesmo antes de ocupar o cargo público, havia trabalhado no ambulatório de
uma farmácia. Sentados á mesa de um bar na Praça Antero Dutra, os três trocaram
impressões sobre a difícil situação do serviço médico em Pequeri, ao mesmo tempo
em que passaram a analisar o projeto
do Mini Hospital. Pouco depois se juntava ao grupo o gerente
da Minas Caixa, Sr. Ronaldo Granato Matta, que já conhecendo o projeto do
prefeito, sugeriu, com a espontaneidade que lhe é peculiar, um brinde á
construção do Mini Hospital.
Alegando
a dificuldade financeira da Prefeitura, o prefeito lembrou de que a construção
daquela Unidade de serviço médico deveria ter a participação da comunidade
e, para isso, pretendia criar uma
entidade filantrópica ensejando, destarte, a colaboração do povo.
Agenor
Garcia Ribeiro, figura eclética, bom escriba e que de tudo conhecia um pouco,
prontificou-se a elaborar um estatuto de uma Associação de Caridade e
Assistência. Já no segundo brinde, o grupo se comprometia em levar adiante
aquele plano marcando, para isso, uma reunião na quinta-feira seguinte.
Sem o
compromisso de qualquer sigilo, o assunto ganhou as ruas para receber a
simpatia popular dos incrédulos. O prefixo “Mini” acabou esquecido no processo,
o que influenciou o desenhista Luiz Carlos Fernandes da Silva a elaborar uma
planta com base nos hospitais da região.
Na
semana seguinte, no dia 12 de abril de 1.968, realizou-se no posto de saúde a
reunião programada. Diante do esboço do estatuto elaborado por Agenor Garcia
Ribeiro, os pioneiros resolveram eliminar de vez o “Mini”. Amadurecida a idéia, ficou acertada a
realização de uma terceira reunião para a qual foram convidadas as figuras
proeminentes da comunidade.
No dia n19 de abril foi realizada a
reunião que marcou o nascimento do hospital, lavrando-se, em folha de papel, a
primeira ata da Associação de Caridade e Assistência de Pequeri -ACAP, cujo
original se acha devidamente conservado e guardado em cofre. Naquela reunião
ficou decidida a convocação de uma assembléia no Clube Social para o dia 05 de
maio de 1.968.
Na data
aprazada, contando com a presença de cerca de setenta pessoas, nascia
oficialmente a Associação de Caridade de Pequeri, lavrando-se a competente ata
de função, promovendo-se a eleição da primeira diretoria e a aprovação do
estatuto. Os primeiros dirigentes eleitos foram: provedor- Boanerges Dutra de
Morais, vice-provedor –Ascânio Gouvêa Matta, primeiro secretário – Agenor Garcia
Ribeiro, segundo secretário –Ed Côrtes Costa , primeiro tesoureiro _Nusin Kielmanowicz e segundo tesoureiro
_Joel Pereira Alvim, ficando o Dr. Harrison de Mendonça como diretor do
hospital. Estava, assim, criado o Hospital S. Pedro.
Ainda
naquela oportunidade, o prefeito Júlio Vanni além de manifestar o empenho da
prefeitura na realização da obra, propôs aos presentes que ali mesmo fossem
feitas as primeiras subscrições de quotas a fim de serem atendidas as despesas
iniciais, no que foi prontamente atendido.
A notícia
da fundação do hospital alcançou logo o domínio público, sensibilizando a
quantos tivessem qualquer vínculo ou de negócios em Pequeri. Ainda empolgado
com o êxito do movimento, o prefeito levantou a idéia de se promover uma festa,
a festa do pequeriense ausente e de amigos de Pequeri, cuja renda seria
totalmente aplicada nas obras do hospital. Rifas, bingos,
quermesses,doações,churrascos,almoços,jantares beneficentes e até sorteios de
brindes pelo resultado diário do bicho, tomaram conta da cidade numa agitação
por demais animadora.
Era plano
do prefeito construir o hospital na colina situada atrás da atual sede da
Prefeitura Municipal, na praça Dr. Potsch.
Aconteceu, porém, que o Sr. Victor Belfort Arantes Filho, também
empolgado com o movimento, teve de ser internado numa emergência em Juiz de
Fora. Ao regressar, procurou o prefeito e lhe ofereceu em doação 16.000m de terreno para a construção do hospital,
justamente ali na colina “Bela Vista” onde se encontra o atual nosocômio.
É
importante registrar as doações voluntárias de carretos, mão de obra, dias de
serviço, material, etc, feitas, inclusive, por gente humilde, hoje,
praticamente impossível identificá-las, mas que evidenciaram a participação da
comunidade como um todo. Mas o ponto alto da campanha ficou mesmo por
conta da festa de pequeriense ausente, cujo saldo de mil cruzeiros na época,
algo hoje como setenta mil cruzados, permitiu o lançamento da pedra fundamental
no dia 21 de dezembro do mesmo ano, e a
aceleração das obras no dia seguinte sob a direção do construtor Augusto
Cortes, já que a Mineração Anasteve, por deferência especial do seu diretor
Rubem Keller, cuidara dos serviços de terraplanagem.
Construído
o primeiro bloco, partiu-se logo para a construção do segundo com a doação
feita pelo Dr. Carlos Juarez Belfort Arantes de todo o cimento para a sua laje.
Para o Prefeito Júlio Vanni, incansável no acompanhamento das obras e na obtenção de
recursos materiais e financeiros, foi uma agradável consagração, ao fim do seu
mandato, poder o prédio abrigar pelo menos a parte ambulatorial.
Os
prefeitos que se seguiram, Boanerges
Dutra de Morais e Luiz Abílio Pimenta Alves, também se empenharam nas
obras do hospital. Mas a falta de recursos e a inflação que já agravava a
economia do país, não tardaram em provocar uma estagnação das obras. Boanerges
teve contra o seu desempenho, o fato de ter sido o seu mandato de dois anos,
agravando com o seu precário estado físico, cuja molestia o arrebatou da vida
poucos anos depois.
Por muito
tempo o hospital esteve totalmente paralisado, como um verdadeiro elefante
branco sob a égide da Fundação Municipal de Saúde, entidade que, estranhamente,
se transformara a Associação de Caridade e Assistência de Pequeri .
Mas foi
na administração do prefeito José Vicente Daniel que o hospital pode ser concluído. A Fundação
Municipal de Saúde se transformou na atual Associação de Caridade S. Pedro e seu provedor eleito foi o Senhor
René Cozac que se propôs a dar a arrancada final até o seu pleno
funcionamento.Deixou assim o hospital,
de ser o grande elefante branco sob as vistas do povo, já quase descrente da
sua utilização.
Há pois
de se louvar o desempenho do prefeito José Vicente Daniel em equipar o hospital e ao incentivo dado as
obras que naquela altura já eram custeadas pelo Sr. René Cozac que assim
inscreveu o seu nome no rol dos maiores beneméritos do Hospital.
É verdade
que o hospital está bem equipado e se acha em pleno funcionamento desde o ano
de 1986, quando se tornou realidade o convênio com o INAMPS mercê a elevada
colaboração dos Srs. José Murilo Borges e Jair Cardoso.
É verdade
também de que o hospital carece, ainda, de novas instalações e novos equipos a
fim de atender as exigências do INAMPS e o crescimento natural dos seus
atendimentos e, até mesmo, de pessoal competente conforme recomendam os seus
atuais dirigentes clínico e administrativo, respectivamente, o Dr. Harrisson de
Mendonça e Dr. Edmir Moutinho.
Neste
relato encerra o primeiro capítulo de uma longa história, já com 19 anos de
existência, desde que os quatro pioneiros se sentaram a uma mesa de bar na
praça Antero Dutra, num instante de lazer e de muita felicidade cívica.
É
lamentável que ninguém tenha registrado os nomes de tantos doadores e
colaboradores populares, de operários a doutores, que acabaram ficando no
anonimato, mas que foram de grande valia para que Pequeri tivesse este hospital
que é, sem dúvida, uma obra que a nossa gente pequeriense deve orgulhar-se. Mas
seus nomes, certamente, estarão registrados nos anais divinos.
Resta-nos
dizer uma derradeira verdade. Uma
verdade verdadeira ou melhor, verdadíssima, verdade límpida, cristalina,
incontestável que merecia ser gravada numa placa á entrada do hospital:
Esta obra
nada deve aos governos federais e estadual na sua parte física.
Foi
considerada sendo um patrimônio inclusive da comunidade pequeriense que sempre contou com a boa vontade de denodados amigos e benfeitores
desta cidade.
Fundadores:
Júlio Cezar Vanni, Agenor Garcia Ribeiro, Dr. Harrisson Mendonça e Ronaldo
Granato Matta.
Doador do
Terreno: Victor Belfort Arantes Filho.
Projeto de
Luiz Carlos Silva.
Construtor
(1 fase): Augusto Cortes
Terraplanagem: Mineração Anasteve Ltda.
Início das
Obras: 21 de dezembro de 1968.
Primeira
Diretoria:
Provedor
-Boanerges Dutra de Morais
Vice
Provedor:Ascânio Gouveia Matta
1
º Secretário: Agenor Garcia Ribeiro
2º
Secretário: Ed Côrtes Costa
1ºTesoureiro:Nusin Kielmanowicz (Natan)
2º-Tesoureiro : Joel Pereira Alvim
Conclusão
da Obra em 1982: Renê Cozac
Prefeito que
iniciou á obra: Júlio Cezar Vanni
Prefeito que
equipou e inaugurou: José Vicente Daniel
Texto recebido por e-mail de Dr. Julio César Vanni, ex-prefeito e histotoriador.
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